sábado, 30 de janeiro de 2010

A minha revolução


Anastasia Cazabon

"Os dias longos, as noites no meio do mar. Espero o porto de chegada, as virtudes restituídas, o espiríto enfim reconciliado com o mundo. E desembarco, há uma qualquer experiência surpreendente, caminho para o conhecimento. Consigo agarrar essa meada ainda irreconhecivel: a maneira como tudo se erreda em tudo. Desabituei-me dos milagres. Sabe-se como é: quase todas as manhãs acordo angustiado, esforço-me por imaginar que este dia é virgem e primeiro, carregado de poderes enigmáticos destinado às revelações. Literatura. merda. Trata-se de mais um dia em que me vou chatear, aturar os meus semelhantes, a filha-da-putice teológico-emocional de um Deus que, ainda por cima, não existe. Posso especular sobre a revolução, evidente. Que revolução? A revolução claro. Pois é: a minha revolução não dá um passo."

Herberto Helder, Como se vai para Singapura

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