Hoje acordei antes do despertador,
nervosa, preocupada, ansiosa.
Resolvi fazer algo que há muito deveria ter feito. Procurar algo genuino.
Ouvi coisas como:
"sabe menina eu vivo num anexo ali ao pé do hospital do rego, num r/c em que o dono me deixa ficar lá"
"O meu filho paga 20€ de renda, e este mes não pagou, mas o meu senhorio disse que não fazia mal."
"A menina tem que ir à minha casa, não quer ir lá ver onde eu vivo?"
"Eles ali da associação dão me comida, arroz, massa, e veja lá que as vezes o meu filho até me leva essa comida"
"O meu filho está só há espera que eu morra menina, não se importa comigo"
"Está a ver este olho menina? É cego, foi o meu marido que me bateu porque eu comprei 3 escudos de cale para pintar a cozinha"
"Sabe menina, eu trabalhei muito no campo, havia alturas em que só comiamos batata"
"Venho para aqui para arranjar mais um dinheirinho para os medicamentos e outras cosinhas"
"É uma vida muito triste esta, menina"
"Olhe desejo-lhe tudo de bom menina, hoje vou rezar por si, que tenha tudo de bom, menina, sim?"
E assim, ao fim de 30 minutos de conversa nos despedimos.
Eu achando que já poderia ter feito isto há 4 anos atrás e feito alguém um pouco mais feliz mais cedo. Ela um pouco mais feliz pois alguém a ouvi e se preocupou com ela. Feliz também porque irá poder comprar os medicamentos para a tensão, bem como investir no seu negócio de rua que a permite ir sobrevivendo um pouco com mais dignidade.
Tão pouco pode afinal ser tanto.
Andamos a maior parte do tempo alienados.
Precisamos parar para pensar e dar, para ver, não somente olhar.
Precisamos fazer a nossa e a poesia dos outros.
Estou numa fase descrente, mas ver a poesia nos outros, nem que seja por meros instantes, faz-me por momentos ter um bocadinho mais de fé.
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